Gemidos marxistas

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A editora Letraselvagem, através de seu editor Nicodemos Sena, vem fazendo um interessante trabalho de repescagem da literatura brasileira esquecida, procurando dar a vários livros uma nova circulação. É o caso do romance Os ventos gemedores, de Cyro de Mattos. Nele, a inspiração em Faulkner, cara a Mattos, mais uma vez se manifesta no seu interesse de, com tintas metafísicas, registrar o confronto entre espoliados e um latifundiário.

O autor enfatiza a condição humana que move esses explorados em busca de mudança mas que, estando numa sociedade fortemente hierarquizada e controlada pela força, encontra como resposta a violência. A guerra é inevitável, assim como é marcante o olhar de Mattos moldado pelo marxismo que apregoa a revolução e formata a escrita, as ideias. No entanto, Mattos, sem alcançar a excelência do texto e as nuances reflexivas de Faulkner, chega a ser primário e às vezes piegas e ingênuo com seus óculos comunistas, circunscrevendo o romance a uma condição menor que o marca como regionalista, focado no ciclo do cacau na Bahia, sem alcançar a arrasadora lição de Guimarães Rosa no trato com esses temas.

→ Os ventos gemedores. Cyro de Mattos. Taubaté: Letraselvagem, 2014.

 

Trecho:

“Meninos e meninas entregam margaridas aos feridos. Almira coloca a coroa de flores silvestres na cabeça do vaqueiro Genaro. Um herói. Um anjo que desceu do céu. O libertador dos humilhados e ofendidos no território do Japará.”

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